Ao continuar navegando você concorda com as Políticas de Privacidade desse site.
17 de Maio de 2016
Os pouco mais de 200 moradores da aldeia São João, a 75Km de Formoso do Araguaia (TO), convivem com a modernidade e a preservação das tradições indígenas. Entre as casas feitas de palha, tijolos e as antenas parabólicas, há 35 anos vivem crianças, jovens, adultos e idosos que mantém em suas raízes a história do povo Javaé e o dilema das consequências da chegada da tecnologia nas comunidades indígenas.
Iudimar Makuaré, 18 anos, exibe o farto cabelo negro e topete modelado com gel. Escolhe roupas da moda, cuida da estética, mas também gosta de trabalhar lidando com a terra. “É bom morar na aldeia, trabalhar capinando e ajudando a construir as casas. Mas também quero fazer faculdade, ser cientista, pesquisar a terra pra poder trabalhar melhor”.
Makuaré entristece o semblante ao falar dos problemas enfrentados por quem mora em algumas comunidades indígenas no Sul do Tocantins. “Ainda tem muito problema com o lixo e sujeira. Também tem a pinga, a maconha e o suicídio”. O luto entre os indígenas dura cerca de 15 dias. “Não pode gritar e nem jogar bola. Só falar pouco e baixo”, explica o jovem.
O abuso de substâncias, como álcool e outras drogas, e o número de casos de suicídio preocupa os indígenas e as autoridades. “Até 2014 não havia registros de suicídio em algumas aldeias Javaé. Já houve casos em algumas comunidades e, infelizmente, novas tentativas ainda acontecem, principalmente entre jovens”, afirma Dejanes Luz, coordenadora de Promoção e Proteção dos Direitos Sociais da Coordenadoria Técnica Local da Funai em Gurupi.
Juraci Javaé foi o fundador da aldeia São João, quando no lugar só havia mata fechada. De lá para cá viu grandes transformações. Com a sua experiência, ele não tem dúvidas sobre os males que chegaram até o seu povo. “Hoje em dia acabou o respeito. Homem que bebe quer matar, quer furar, quer tudo. Por que tão se matando? É cachaça”.
Javaé é pai do atual cacique da aldeia, Darci Maurerri Javé, que juntamente com as demais lideranças promovem constantes ações educativas sobre o tema. “É preciso que as pessoas sejam orientadas, que os jovens não acompanhem aquilo que não é bom e que evitem o que faz mal”, disse.
Ademir Kurisiri, diretor da Escola Indígena Temanare há oito anos, também atua na valorização da cultura indígena e na prevenção do suicídio. “Fazemos palestras, reuniões com pais e tudo que está a nosso alcance para conversar com as famílias sobre o assunto. Com a colaboração de todos é que acreditamos ser possível evitar novos casos”.
Para Kurisiri, além do abuso de substâncias, questões religiosas e as muitas mudanças sociais, culturais e econômicas estão relacionadas ao surgimento de casos dessa natureza. “Não estamos preparados para tantas mudanças, o índio não consegue acompanhar. Além da moda, da tecnologia, celulares e outros aparelhos, o contato dos índios com a bebida e com as drogas é cada vez mais cedo. Aqui na nossa aldeia é proibido, mas em outros lugares as pessoas conseguem facilmente. É muito difícil de lidar”.
Educação e saúde
A partir de uma parceria entre a Funai e o curso de Psicologia do Centro Universitário UnirG, estudantes do 10º período estiveram no último sábado, 14, na aldeia São José realizando palestras e ações educativas sobre qualidade de vida e saúde.
De acordo com a professora Márcia Padilha, responsável pela disciplina Intervenção em Populações Diferenciadas, a ida dos estudantes à aldeia teve a proposta de levar informações o orientações na área da saúde mental.
“O curso de Psicologia realizou ações com grupos de diferentes faixas-etárias, com temáticas que abordam a prevenção do abuso de álcool e outras drogas. Também foi uma oportunidade para que os estudantes conhecessem o trabalho do psicólogo em grupos de vulnerabilidade social, observando as questões éticas profissionais”.
Um grupo de acadêmicos realizou atividades com crianças envolvendo a ludoterapia. “Por meio das brincadeiras e recursos como massa de modelar, pintura, buscamos formas para que as crianças pudessem expor seus sentimentos, ao mesmo tempo em que estimulamos a psicomotricidade com o canto e dinâmicas”, explicou a acadêmica Narla Rúbia Rodrigues.
Os casais também participaram de uma roda de conversa, com dinâmicas de grupo que abordaram questões como relacionamento entre cônjuges, pais e filhos, acesso e utilização correta da tecnologia.
O grupo formado por jovens e adolescentes debateu temas como sexualidade, álcool, drogas e suicídio. “O trabalho foi muito bom, foram falados muitos assuntos importantes, como drogas, prevenção de doenças e vícios. Fizemos desenhos sobre esses assuntos e espalhamos pela aldeia para que outras pessoas vejam e entendam que não é bom usar drogas”, disse a jovem Mikilu Javaé, moradora da aldeia Canuanã, que também participou do evento.
“Ações desse tipo são de grande importância para nós e nos ajudam. É uma oportunidade de aprendermos com pessoas qualificadas e com formação na área de saúde. Agradecemos a UnirG pela presença e por essa ação de promoção e prevenção em saúde”, frisou Ademir Kurisiri, diretor da Escola Indígena Temanare.
Na ocasião, servidores e voluntários da Fundação Bradesco estiveram na aldeia realizando diversas ações no Dia Nacional de Ação Voluntária, com plantação de mudas de árvores, atividades de lazer, esporte, pintura facial, coleta de lixo e distribuição de material informativo sobre zika vírus.
Fotos: Luiz Guilherme Brito (Ascom UnirG)